domingo, 28 de abril de 2013

ALÉM DA PERSONALIDADE OU OS PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA DA TRINDADE

CRIAR E GERAR

Todos me aconselharam a não lhes dizer o que vou dizer neste último livro. Afirmam: "O leitor comum não quer saber de Teologia; dê-lhe somente a religião simples e prática." Rejeitei o conselho. Não acho que o leitor comum seja um tolo. Teologia significa "a Ciência de Deus", e creio que todo homem que pensa sobre Deus gostaria de ter sobre ele a noção mais clara e mais precisa possível. Vocês não são crianças: por que, então, lhes tratar como tal?

Em certo sentido, até compreendo por que algumas pessoas se sentem desconcertadas ou até incomodadas pela Teologia. Lembro-me de certa ocasião em que dava uma palestra para os pilotos da R.A.F. e um oficial velho e rijo levantou-se e disse: "Nada disso tem serventia para mim. Mas saiba que também sou um homem religioso. Sei que existe um Deus. Sozinho no deserto, à noite, já senti a presença dele: o tremendo mistério. E é exatamente por isso que não acredito em todas essas fórmulas e esses dogmas a respeito dele. Para qualquer um que tenha conhecido a realidade, todos eles parecem mesquinhos, pedantes e irreais."

Ora, num sentido, até concordo com esse homem. Creio que ele provavelmente teve uma experiência real de Deus no deserto. Quando se voltou da experiência para o credo cristão, acho que realmente passou de algo real para algo menos real. Da mesma maneira, um homem que já viu o Atlântico da praia e depois olha um mapa do Atlântico também está trocando a coisa real pela menos real: troca as ondas de verdade por um pedaço de papel colorido. Mas é exatamente essa a questão. Admito que o mapa não passa de uma folha de papel colorido, mas há duas coisas que devemos lembrar a seu respeito. Em primeiro lugar, ele se baseia nas experiências de centenas ou milhares de pessoas que navegaram pelas águas do verdadeiro oceano Atlântico. Dessa forma, tem por trás de si uma massa de informações tão reais quanto a que se pode ter da beira da praia; com a diferença que, enquanto a sua é um único relance, o mapa abarca e colige todas as experiências de diversas pessoas. Em segundo lugar, se você quer ir para algum lugar, o mapa é absolutamente necessário. Enquanto você se contentar com caminhadas à beira da praia, seus vislumbres serão mais divertidos que o exame do mapa; mas o mapa será de mais valia que uma caminhada pela praia se você quiser ir para os Estados Unidos.

A Teologia é como o mapa. O simples ato de aprender e pensar sobre as doutrinas cristãs, considerado em si mesmo, é sem dúvida menos real e menos instigante do que o tipo de experiência que meu amigo teve no deserto. As doutrinas não são Deus, são como um mapa. Esse mapa, porém, é baseado nas experiências de centenas de pessoas que realmente tiveram contato com Deus — experiências diante das quais os pequenos frêmitos e sentimentos piedosos que você e eu podemos ter não passam de coisas elementares e bastante confusas. Além disso, se você quiser progredir, precisará desse mapa. Note que o que aconteceu com aquele homem no deserto pode ter sido real e certamente foi emocionante, mas não deu em nada. Não levou a lugar nenhum. Não há nada que possamos fazer. Na verdade, é justamente por isso que uma religiosidade vaga — sentir Deus na natureza e assim por diante — é tão atraente. Ela é toda baseada em sensações e não dá trabalho algum: é como mirar as ondas da praia. Você jamais alcançará o Novo Mundo simplesmente estudando o Atlântico dessa ma-neira, e jamais alcançará a vida eterna sentindo a presença de Deus nas flores ou na música. Também não chegará a lugar algum se ficar examinando os mapas sem fazer-se ao mar. E, se fizer-se ao mar sem um mapa, não estará seguro.

Em outras palavras, a Teologia é uma questão prática, especialmente hoje em dia. No passado, quando havia menos instrução formal e menos discussões, talvez fosse possível passar com algumas poucas idéias simples sobre Deus. Hoje não é mais assim. Todo mundo lê, todo mundo presta atenção a discussões. Conseqüen-temente, se você não der atenção à Teologia, isso não significa que não terá idéia alguma sobre Deus. Significa que terá, isto sim, uma porção de idéias erradas — idéias más, confusas, obsoletas. A imensa maioria das idéias que são disseminadas como novidades hoje em dia são as que os verdadeiros teólogos testaram vários séculos atrás e rejeitaram. Acreditar na religião popular moderna da Inglaterra é a mesma coisa que acreditar que a Terra é plana — um retrocesso.

Pois, na prática, a idéia popular de cristianismo é simplesmente esta: Jesus Cristo foi um grande mestre da moral e, se seguíssemos seus conselhos, conseguiríamos estabelecer uma ordem social melhor e evitar uma nova guerra. Saiba que isso tem seu fundo de verdade. Mas é muito menos que a verdade integral do cristianismo, e na realidade não tem importância prática alguma.

E verdade que, se seguíssemos os conselhos de Cristo, viveríamos em breve num mundo mais feliz. Nem precisaríamos ir tão longe: se déssemos ouvidos ao que disseram Platão, Aristóteles ou Confúcio, estaríamos muito melhor do que estamos. E daí? Nunca seguimos os conselhos dos grandes mestres. Por que começaríamos a segui-los agora? E por que estaríamos mais dispostos a ouvir a Cristo que aos outros? Porque ele é o melhor mestre da moral? Com isso, é ainda menos provável que o sigamos. Se não conseguimos aprender nem as lições elementares, como passaremos às mais adiantadas? Se o cristianismo não passa de mais um bocado de conselhos, ele não tem importância nenhuma. Não nos faltaram bons conselhos nos últimos quatro mil anos. Um pouquinho mais não faz diferença.

No entanto, logo que nos debruçamos sobre os verdadeiros escritos cristãos, vemos que eles falam de algo inteiramente diferente dessa religião popular. Dizem que Cristo é o Filho de Deus (o que quer que isso signifique). Dizem que os que nele depositam sua confiança podem também tornar-se filhos de Deus (o que quer que isso signifique). E dizem ainda que sua morte nos salvou de nossos pecados (o que quer que isso signifique).

Não adianta reclamar que essas afirmações são difíceis. O cristianismo pretende falar-nos de um outro mundo, de algo que está por trás do mundo que podemos ver, ouvir e tocar. Você pode até pensar que essa pretensão é falsa, mas, se for verdadeira, o que o cristianismo nos diz será necessariamente difícil — pelo menos tão difícil quanto a Física moderna, e pela mesma razão.

O ponto mais chocante do cristianismo é a afirmação de que, quando nos ligamos a Cristo, podemos nos tornar "filhos de Deus". Alguém pergunta: "Mas já não somos filhos de Deus? A paternidade de Deus não é uma das idéias principais do cristianismo?" Bem, em certo sentido não há dúvida de que já somos filhos de Deus. Ou seja, Deus nos trouxe à existência, nos ama e cuida de nós, como um pai. Mas, quando a Bíblia fala que podemos "nos tornar" filhos de Deus, obviamente quer dar a entender algo diferente. E isso nos leva para o próprio coração da Teologia.

Um dos credos diz que Cristo é o Filho de Deus "gerado, não criado"; e acrescenta: "Gerado pelo Pai antes de todos os mundos." Por favor, ponha na sua cabeça que isto não tem nada que ver com o fato de que, quando Cristo nasceu na terra como homem, foi filho de uma virgem. Não estamos falando aqui do nascimento virginal, mas de algo que aconteceu antes que a natureza fosse criada, antes que o próprio tempo existisse. "Antes de todos os mundos" Cristo é gerado, não criado. O que isso significa?

Não usamos mais as palavras begetting e begotten[1] no inglês moderno, mas todo o mundo ainda sabe o que elas significam. Gerar (to beget) é ser pai de alguém; criar (to create) é fazer, construir algo. A diferença é a seguinte: na geração, o que foi gerado é da mesma espécie que o gerador. Um homem gera bebês humanos, um castor gera castorzinhos e um pássaro gera ovos de onde sairão outros passarinhos. Mas, quando fazemos algo, esse algo é de uma espécie diferente. Um pássaro faz um ninho, um castor constrói uma represa, um homem faz um aparelho de rádio - ou talvez algo um pouco mais parecido consigo mesmo que um rádio: uma estátua, por exemplo. Se for um escultor habilidoso, sua estátua se parecerá muito com um homem. Mas é claro que não será um homem de verdade; terá somente a aparência. Não poderá pensar nem respirar. Não tem vida.

Esse é o primeiro ponto que devemos deixar claro. O que Deus gera é Deus, assim como o que o homem gera é homem. O que Deus cria não é Deus, assim como o que o homem faz não é homem. É por isso que os ho-mens não são filhos de Deus no mesmo sentido em que Cristo o é. Podem se parecer com Deus em certos aspec-tos, mas não são coisas da mesma espécie. Os homens são mais semelhantes a estátuas ou quadros de Deus.

A estátua tem a forma de um homem, mas não tem vida. Da mesma maneira, o homem tem (num sentido que ainda vou explicar) a "forma" ou semelhança de Deus, mas não o tipo de vida que Deus possui. Vamos examinar o primeiro ponto (a semelhança com Deus) em primeiro lugar. Tudo o que Deus criou tem alguma semelhança com ele mesmo. O espaço se parece com ele em sua vastidão; não que a grandeza do espaço seja do mesmo tipo que a grandeza de Deus, mas é uma espécie de símbolo dela, ou uma tradução dela em termos não-espirituais. A matéria é semelhante a Deus por ter energia: embora a energia física seja diferente do poder de Deus. O mundo vegetal é semelhante a Deus por ter vida, pois ele é o "Deus vivo". A vida em seu sentido biológico, porém, não é a mesma coisa que a vida em Deus: é como um símbolo ou uma sombra. Já nos animais encontramos outras formas de semelhança com Deus além da vida vegetativa. A intensa atividade e a fertilidade dos insetos, por exemplo, é uma primeira e vaga imagem da atividade incessante e da criatividade de Deus. Nos mamíferos superiores, temos um princípio de instinto afetivo. Não é a mesma coisa que o amor que existe em Deus; mas é semelhante a este - da mesma maneira que uma figura desenhada numa folha plana de papel pode ser "semelhante" a uma paisagem. Quando chegamos ao homem, o mais elevado dos animais, vemos, entre as coisas que nos são conhecidas, a semelhança mais perfeita com Deus. (Pode haver criaturas em outros mundos que se pareçam ainda mais com Deus, mas não as conhecemos.) O homem não apenas vive como também ama e raciocina: nele, a vida biológica atinge o nível mais elevado de que temos notícia. Mas o que o homem, em sua condição natural, não possui, é a vida espiritual — um tipo diferente e superior de vida que existe em Deus. Usamos a mesma palavra — vida - para designar a ambas; mas se você pensa que por isso as duas são a mesma coisa, é como se pensasse que a "grandeza" do espaço e a "grandeza" de Deus são o mesmo tipo de grandeza. Na realidade, a diferença entre a vida biológica e a vida espiritual é tão importante que vou tratá-las por nomes diferentes. A vida biológica, que vem da natureza e que (como tudo o mais no mundo natural) tende a se corromper e a decair -de modo que só pode se conservar através de contínuos subsídios dados pela natureza na forma de ar, água, alimentos etc. - é bíos. A vida espiritual, que é em Deus desde toda a eternidade e que criou o universo natural inteiro, é zoé. É certo que bíos tem uma certa semelhança parcial ou simbólica com zoé: mas é apenas a semelhança que existe entre uma fotografia e um lugar, ou entre uma estátua e um homem. O homem que tinha bíos e passa a ter zoé sofre uma mudança tão grande quanto a de uma estátua que deixasse de ser pedra entalhada e se transformasse num homem real. E é exatamente disso que trata o cristianismo. Este mundo é como o ateliê de um grande escultor. Nós somos as estátuas, e corre por aí o boato de que alguns de nós, um dia, ganharão a vida.

[1] Do verbo to beget: gerar, originar.

UM DEUS EM TRÊS PESSOAS


O capítulo anterior tratou da diferença entre gerar e criar. Um homem gera uma criança, mas cria uma es-tátua. Deus gerou o Cristo, mas fez o homem. Contudo, quando digo isso, estou apenas ilustrando um aspecto de Deus, a saber, que o que Deus Pai gera é Deus, alguém da mesma espécie que ele. Nesse sentido, esse ato é se-melhante ao de um pai humano que gera um filho humano. Mas não é exatamente igual. Por isso, tenho de tentar dar mais algumas explicações.

Hoje em dia, um bom número de pessoas diz: "Acredito em Deus, mas não num Deus pessoal." Elas pressentem que o mistério por trás de todas as coisas deve ser maior que uma pessoa. Os cristãos concordam com isso. Porém, os cristãos são os únicos que oferecem uma idéia de como seria esse ser que está além da persona-lidade. Todas as outras pessoas, apesar de dizerem que Deus está além da personalidade, na verdade concebem-no como um ser impessoal: melhor dizendo, como algo aquém do pessoal. Se você está em busca de algo suprapessoal, algo que seja mais que uma pessoa, não se verá obrigado a escolher entre a idéia cristã e as outras idéias, pois a idéia cristã é a única existente no mercado.

Além disso, alguns crêem que depois desta vida, ou talvez de várias, as almas humanas serão "absorvidas" em Deus. No entanto, quando tentam explicar o que isso significa, parecem ter a noção de que a absorção do nosso ser em Deus é como a absorção de um material por outro. Dizem que seria como uma gota d'água que caísse no oceano. E claro, porém, que esse seria o fim da gota. Se é isso que acontece conosco, ser absorvido é o mesmo que deixar de existir. Só os cristãos fazem idéia de como as almas humanas podem ser assumidas pela vida divina e continuar sendo elas mesmas — aliás, ser muito mais "elas mesmas" do que antes.

Avisei que a Teologia é um assunto prático. O objetivo único da nossa existência é ser assumidos pela vida divina. Quando temos idéias erradas sobre o que é essa vida, a realização do objetivo torna-se mais difícil. E agora peço que vocês sigam meu raciocínio com a máxima atenção por alguns minutos.

Todos sabem que, no espaço, podemos nos mover de três maneiras: para a esquerda e para a direita, para a frente e para trás, para cima e para baixo. Toda direção espacial é uma dessas três ou uma combinação delas. São o que chamamos de três dimensões. Agora note o seguinte. Se você usar apenas uma dimensão, poderá desenhar somente uma linha reta. Se usar duas, poderá desenhar uma figura: um quadrado, digamos, que é feito de quatro linhas retas. Vamos dar mais um passo. Se usar três dimensões, você poderá construir o que chamamos de um corpo sólido, como um cubo — um dado, por exemplo, ou um torrão de açúcar. O cubo é composto de seis quadrados.

Compreendeu? Um mundo unidimensional seria uma linha reta. Num mundo bidimensional, ainda haveria linhas retas, mas as linhas poderiam compor figuras. Num mundo tridimensional, ainda existem figuras, mas, combinadas, elas compõem corpos sólidos. Em outras palavras, à medida que avançamos para níveis mais com-plexos e mais reais, não deixamos para trás as coisas encontradas nos níveis mais simples: elas ainda existem, mas se combinam de maneiras novas — maneiras que nem sequer poderiam ser imaginadas por alguém que só conhecesse os níveis mais simples.

Ora, a noção cristã de Deus envolve o mesmíssimo princípio. O nível humano é um nível simples e mais ou menos vazio. Nele, uma pessoa é um ser e duas pessoas são dois seres separados - da mesma forma que, num plano bidimensional como o de uma folha de papel, um quadrado é uma figura e dois quadrados são duas figuras separadas. No nível divino, ainda existem personalidades; nele, porém, as encontramos combinadas de maneiras novas, maneiras que nós, que não vivemos nesse nível, não podemos imaginar. Na dimensão de Deus, por assim dizer, encontramos um Ser que são três pessoas sem deixar de ser um único Ser, da mesma forma que um cubo são seis quadrados sem deixar de ser um único cubo. E claro que não conseguimos conceber plenamente um Ser como esse. Do mesmo modo, se percebêssemos apenas duas dimensões do espaço, não poderíamos jamais imaginar um cubo. Mesmo assim podemos ter dele uma noção vaga. Quando isso acontece, nós conseguimos ter, pela primeira vez na vida, uma idéia positiva, mesmo que tênue, de algo suprapessoal — algo maior que uma pessoa. É algo que nos surpreende completamente e que, no entanto, quando ouvimos falar dele, quase nos faz sentir que poderíamos tê-lo adivinhado, uma vez que se harmoniza tão bem com as coisas que já conhecemos.

Você pode perguntar: "Se não conseguimos imaginar esse Ser tripessoal, de que adianta falar sobre ele?" Bem, de nada adianta falar sobre ele. O que interessa é sermos atraídos e conduzidos de fato para dentro dessa vida tripessoal. Esse processo pode começar, aliás, a qualquer momento — hoje à noite, se você quiser.

O que quero dizer é o seguinte: o simples cristão ajoelha-se e faz suas orações, tentando entrar em contato com Deus. Porém, se ele é cristão, sabe que o que o induz a orar é também Deus: Deus, por assim dizer, dentro dele. E sabe também que todo o conhecimento real que possui de Deus veio por meio de Cristo, o Homem que foi Deus. Sabe que Cristo está de pé a seu lado, ajudando-o a orar, orando por ele. Você vê o que está acon-tecendo? Deus é aquilo para o qual ele ora — o objetivo que tenta alcançar. Deus é também aquilo, dentro dele, que o impele — a força motriz. Deus, por fim, é a estrada ou a ponte que ele percorre para chegar a seu objetivo. Assim, toda a vida tríplice do Ser tripessoal entra em ação nesse quarto humilde onde um homem comum faz suas orações. O homem está sendo capturado por um tipo superior de vida — o que chamei de zoé ou vida espiritual: está sendo atraído para dentro de Deus pelo próprio Deus, sem deixar de ser ele mesmo.

E foi assim que começou a Teologia. As pessoas já conheciam Deus de forma mais ou menos vaga. Então veio um homem que dizia ser Deus; um homem que, no entanto, ninguém conseguia rejeitar como um lunático. Esse homem fez com que as pessoas acreditassem nele. Essas pessoas voltaram a encontrar-se com ele depois de tê-lo visto ser assassinado. Por fim, tendo-se constituído numa pequena sociedade ou comunidade, essas pessoas de alguma forma descobriram a Deus dentro de si próprias, dizendo-lhes o que fazer e tornando-as capazes de atos que até então eram impossíveis. Quando entenderam tudo isto, elas chegaram à definição crista do Deus tripessoal.

Essa definição não é algo que inventamos. A Teologia, em certo sentido, é uma ciência experimental. São as religiões simplistas que foram inventadas. Quando digo que ela é uma ciência experimental "em certo sentido", quero dizer que é igual às outras ciências experimentais sob alguns aspectos, mas não todos. Se você é um geó-logo que estuda minerais, você tem de ir a campo para encontrá-los. Eles não irão até você e, quando você os en-contra, eles não podem escapulir. Toda a iniciativa cabe a você. Os minerais não podem nem ajudá-lo, nem pre-judicá-lo. Agora suponha que você seja um zoólogo que se propôs a tirar fotos de animais em seu hábitat natural. A situação fica um pouco diferente. Os animais selvagens não irão ao seu encontro, mas podem fugir de você, e, se você não ficar bem quieto, certamente o farão. Começa a haver aqui um pouquinho de iniciativa por parte deles.

Passemos a um estágio superior. Suponha que você queira estudar um ser humano. Se ele estiver determinado a não se deixar estudar, você não conseguirá conhecê-lo. Vai ser preciso ganhar-lhe a confiança. Nesse caso, a iniciativa se divide igualmente pelos dois lados - para uma amizade, são necessárias duas pessoas.

Quando se trata do conhecimento de Deus, a iniciativa cabe inteiramente a ele. Se ele não se revelar, nada que você fizer o capacitará a encontrá-lo. E, na verdade, ele se dá a conhecer muito mais a certas pessoas que a outras — não porque tenha predileções, mas porque é impossível que ele se revele ao homem cuja mente e cujo caráter estejam em más condições. Da mesma forma, os raios do sol, apesar de também não terem predileções, não se refletem tão bem num espelho empoeirado quanto num espelho polido.

Podemos dizê-lo de outra forma: enquanto nas outras ciências os instrumentos são externos a nós (como o microscópio e o telescópio), o instrumento pelo qual vemos a Deus é nosso próprio ser, nosso ser inteiro. Se o ser do homem não estiver limpo e brilhante, sua visão de Deus será turva — como a lua vista por um telescópio sujo. E por isso que os povos abomináveis têm religiões abomináveis: eles vêem a Deus através de uma lente suja.

Deus só pode se revelar verdadeiramente para homens de verdade. Isso não significa apenas homens in-dividualmente bons, mas homens unidos entre si num único corpo, amando-se e auxiliando-se mutuamente, revelando Deus uns aos outros. Pois é assim que Deus quer que a humanidade seja: como os músicos de uma orquestra, como os órgãos de um corpo.

Em conseqüência, o único instrumento verdadeiramente adequado para conhecer Deus é a comunidade cristã como um todo, a comunidade dos que juntos o aguardam. Numa analogia, a fraternidade cristã é o equi-pamento técnico dessa ciência — os apetrechos do laboratório. Por isso, as pessoas que, ano sim, ano não, lançam uma versão flagrantemente simplificada da religião na tentativa de substituir a tradição cristã estão perdendo completamente o seu tempo. São como o sujeito que, contando apenas com um velho binóculo, resolve corrigir toda a comunidade dos astrônomos. Pode ser que esse sujeito seja bastante inteligente, talvez até mais inteligente do que alguns astrônomos de verdade, mas ele próprio se sabota. Em dois anos estará esquecido, enquanto a verdadeira ciência continuará de pé.

Se o cristianismo fosse algo que inventamos, é claro que seria mais fácil. Mas não é. Não podemos com-petir, em matéria de simplicidade, com as pessoas que inventam religiões. Como poderíamos? Trabalhamos com a realidade como ela é. Só quem não se importa com a realidade pode se dar ao luxo de ser simplista.

O TEMPO E ALÉM DO TEMPO

É uma idéia pueril a de que não podemos, na leitura de um livro, "pular" algumas de suas partes. Todas as pessoas sensatas o fazem quando chegam a um capítulo que julgam que não vai ser útil. Neste capítulo, vou falar de algo que talvez ajude alguns leitores, mas que pode ser visto por outros somente como uma complicação desnecessária. Se você pertence ao segundo grupo, aconselho-o a não se preocupar com este capítulo, mas a passar direto para o próximo.

No capítulo anterior, toquei de leve na questão da oração. Enquanto ela está fresquinha tanto na sua mente quanto na minha, vamos tratar de uma dificuldade geral que certas pessoas encontram para orar. Um homem resumiu para mim a situação: "Acredito em Deus, mas não consigo engolir a idéia de que atenda a centenas de milhões de pessoas que se dirigem a ele num mesmo momento." E constatei que muita gente pensa do mesmo modo.

A primeira coisa a notar é que o problema surge com as palavras num mesmo momento. A maioria das pessoas é capaz de imaginar Deus atendendo a um número infinito de peticionários, desde que cheguem um por vez e ele tenha um tempo infinito para atendê-los. Assim, o que está na raiz desta dificuldade é a idéia de que Deus tenha de fazer muitas coisas numa única fração de tempo.

É isso, evidentemente, que acontece conosco. Nossa vida nos vem momento a momento. Um momento desaparece antes que o outro chegue, e em cada um deles cabe pouquíssima coisa. Essa é a natureza do tempo. E é claro que você e eu temos como certo que essa série temporal - esse arranjo de passado, presente e futuro — não é apenas o modo como a vida se apresenta para nós, mas o modo como funcionam todas as coisas que existem. Costumamos pensar que todo o universo e até o próprio Deus passam do passado para o futuro, como nós fazemos. Muitos homens cultos, no entanto, não concordam com isso. Foram os teólogos que primeiro levantaram a idéia de que muitas coisas não estão submetidas ao tempo. Mais tarde, os filósofos assumiram essa idéia, e agora os cientistas fazem a mesma coisa.

Com quase toda a certeza, Deus não está no tempo. A vida dele não consiste em momentos que são seguidos por outros momentos. Se um milhão de pessoas oram para ele às dez e meia da noite, ele não precisa ouvi-las todas no instantezinho que chamamos de dez e meia. Dez e meia, ou qualquer outro momento ocorrido desde a criação do mundo, é sempre o presente para Deus. Para dizê-lo de outra maneira, Deus tem toda a eterni-dade para ouvir a brevíssima oração de um piloto cujo avião está prestes a cair em chamas.

Sei que isso é difícil. Vou tentar dar outro exemplo, não exatamente sobre a mesma coisa, mas de algo um pouco parecido. Suponha que eu esteja escrevendo um romance. Escrevo: "Mary largou o trabalho e logo em se-guida ouviu baterem à porta." Para Mary, que vive no tempo imaginário da minha história, não há intervalo entre largar o trabalho e ouvir a batida na porta. Eu, porém, que sou o criador de Mary, não vivo nesse tempo imaginário. Entre o tempo de escrever a primeira metade da frase e a segunda, posso parar o trabalho por umas três horas e ficar imerso em pensamentos sobre Mary. Posso pensar sobre minha personagem como se ela fosse a única personagem do livro e por quanto tempo eu desejar, e no entanto as horas passadas nessa atividade não aparecerão no tempo dela (dentro da história).

Sei muito bem que esse exemplo não é perfeito. Mas ele talvez dê uma pálida noção do que eu acredito seja verdade. Deus não precisa se afobar no fluxo de tempo deste universo, assim como um escritor não precisa viver o tempo imaginário de seu romance. Ele pode dar atenção infinita a cada um de nós. Nunca teve de nos tratar como a uma massa. Você está sozinho na companhia dele como se fosse o único ser que ele tivesse criado. Quando Cristo foi crucificado, ele morreu por você, individualmente, como se você fosse o único homem da Terra.

O meu exemplo falha porque o escritor abandona uma seqüência temporal (a do romance) mas entra em outra (a verdadeira). Creio, porém, que Deus não vive preso a nenhuma seqüência temporal. Sua vida não se escoa momento a momento como a nossa: ele, por assim dizer, ainda está em 1920 mas também já está em 2060[2]. Pois sua vida é ele mesmo.

Se você visualizar o tempo como uma linha reta pela qual viajamos, tem de imaginar a Deus como a página na qual a linha é desenhada. Percorremos uma a uma as partes da linha: temos de deixar o ponto A para alcançar o ponto B, e só alcançamos C depois de deixar B. Deus, por sua vez, está fora e acima disso, contém a linha inteira e vê tudo.

Vale a pena tentar compreender essa idéia porque ela desfaz algumas contradições aparentes do cristianismo. Antes de me tornar cristão, eu propunha a seguinte objeção: os cristãos dizem que o Deus eterno que está em toda parte e governa o universo inteiro se tornou ser humano. Ora pois, eu perguntava, como ele conseguia governar o universo enquanto era bebê ou enquanto dormia? Como podia ele ser ao mesmo tempo o Deus que tudo sabe e o homem que perguntou aos discípulos: "Quem me tocou?" Você há de notar que o problema nasce dos termos relacionados a tempo: "Enquanto era bebê" - "Como podia ser ao mesmo tempo..." Em outras palavras, eu pressupunha que a vida de Cristo enquanto Deus se desenrolava no tempo e que sua vida enquanto Jesus, o homem da Palestina, era um pequeno lapso destacado desse fluxo de tempo - da mesma forma que o período em que servi no exército é um período destacado do total da minha vida. E é assim que a maioria das pessoas, talvez, compreende o assunto. Imaginam que houve um período na existência de Deus em que sua vida na Terra ainda estava no futuro, seguido de um momento em que ela era o presente e passando para um momento em que esse tempo ficou no passado. Provavelmente, essas idéias não correspondem à rea-lidade. Não dá para encaixar a vida terrena de Cristo na Palestina numa relação temporal com sua vida enquanto Deus, pois esta se encontra além do tempo e do espaço. Ouso afirmar que a natureza humana, e a experiência humana da fraqueza, do sono e da ignorância, de algum modo se incluem no todo da vida divina de Deus, e afirmo que essa é uma verdade eterna sobre a sua natureza. Essa vida humana em Deus, vista da nossa perspectiva, corresponde a um período particular da história do nosso mundo (do ano 1 à crucificação). Imaginamos assim que também corresponda a um período da história da própria existência de Deus. Deus, porém, não tem história. Ele é tão absolutamente real que não pode ter. Isso porque ter uma história significa perder uma parte da realidade (que se desvanece no passado) e ainda não gozar de outra parte (que se encontra no futuro): na verdade, ter uma história é não possuir nada a não ser o minúsculo tempo presente, que acaba antes que possamos abrir a boca para falar dele. Deus nos livre de pensar que ele seja assim. Mesmo nós temos a esperança de não ficar limitados dessa forma para sempre.

Outra dificuldade que surge se acreditamos que Deus vive no tempo: todos que crêem em Deus acreditam que ele sabe o que eu e você faremos amanhã. Mas, se ele sabe que farei isto ou aquilo, onde está a minha liberdade de fazer o contrário? Bem, mais uma vez a dificuldade está em pensar que Deus progride como nós numa seqüência temporal, com a única diferença de que ele consegue enxergar o futuro e nós, não. Bem, se isso é verdade, se Deus prevê os nossos atos, fica difícil entender nossa liberdade de não fazer algo. Suponha, no entanto, que Deus esteja fora e acima da linha de tempo. Nesse caso, isso que chamamos "amanhã" é visível para ele da mesma forma que o que chamamos "hoje". Todos os dias são "agora" aos olhos de Deus. Ele não se lembra de que ontem você fez isto e aquilo; simplesmente vê você fazer essas coisas, porque, embora você tenha perdido para sempre o dia de ontem, ele não perdeu. Ele não "antevê" você fazendo isto e aquilo amanhã; simplesmente vê você fazendo essas coisas, pois, embora o amanhã ainda não exista para você, já existe para ele. Você nunca pensou que os atos que faz agora são menos livres só porque Deus sabe o que você está fazendo. Bem, ele conhece suas ações de amanhã exatamente da mesma maneira — pois já está no amanhã e pode simplesmente observá-lo. Num certo sentido, ele não conhece nossas ações até que elas tenham acontecido; no entanto, o momento em que elas acontecem já é "agora" para ele.

Essa idéia me ajudou muito. Se ela não ajudar você, deixe-a de lado. Ela é uma "idéia cristã" na medida em que grandes sábios cristãos a sustentaram e que nela não há nada de contrário ao cristianismo. Porém, não se encontra nem na Bíblia nem em nenhum dos credos. Você pode ser perfeitamente cristão sem aceitá-la, ou mesmo sem pensar em absoluto neste assunto.

 

[2] No original, "1960". O objetivo do autor era mostrar que Deus está acima dos limites do tempo, c para ele não há o passado e o futuro como os conhecemos. Como os textos foram escritos na década de 1940, o ano de 1960 era uma referência de futuro. (N. do R. T.)

 

Fonte: LEWIS, C. S - Cristianismo Puro e Simples – p.203 à 227 – Editora Martins Fontes 3º Edição

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Trindade: Introduções


Introdução às Questões

 
Para evitar confusão, no início deste artigo, gostaria de afirmar que somos totalmente trinitários em nossa doutrina. Isto é afirmado no ponto n º 1 do nosso "Só para você saber" da página, que declara os nossos pontos de vista sobre as doutrinas cristãs fundamentais. E, para evitar qualquer equívoco, quando dizemos que nós aceitamos a definição ortodoxa da Trindade, queremos dizer que aceitamos que o Pai, a Palavra (Filho), e o Espírito Santo são três pessoas eternamente distintas e co-iguais, todavia um Deus - Jeová (ou YHWH). Como será discutido ao longo deste artigo, acreditamos que o conceito da Trindade é monoteísta, não politeísta e, especificamente, que é o monoteísmo enunciado pelo Antigo Testamento (e depois continuou no Novo Testamento). Além disso, acreditamos que a evidência no Antigo Testamento (assim como o Novo Testamento) exclui qualquer forma de modalismo ou arianismo.
 
O Modalismo essencialmente ensina que há apenas uma pessoa dentro da Divindade, embora ela interaja com os homens em diferentes modos, formas, ou funções.
 
"Trindade - Uma solução alternativa foi interpretar o Pai, o Filho e o Espírito Santo como três modos de auto revelação do Deus único, mas não tão distintos dentro do ser do próprio Deus ... chegou a um acordo com a sua unidade, mas ao custo de sua distinção como "pessoas" (modalismo) "- Enciclopédia Britânica.
 
E o Arianismo ensina que a Palavra e o Espírito foram criados, sub-divindades que trabalharam em conjunto com o Ser Supremo.
 
"Semi-Arianismo - Arius afirmou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram três essências separadas (ousiai) ou substâncias (hypostaseis) e que o Filho e o Espírito recebiam sua divindade do Pai, foram criadas no tempo, e eram inferiores á Divindade "- Enciclopédia Britânica.
 
Ao abordarmos a natureza da Divindade, é importante primeiro entender porque todas as perguntas surgem relacionadas ao número de pessoas na Divindade e qual a natureza dessas pessoas poderia ser. Por exemplo, As diferentes pessoas são realmente uma pessoa agindo em diferentes funções ou formas? Ou, algumas das diferentes pessoas são, na verdade, criadas sub-divindades? E qual é a evidência que levanta tais questões em primeiro lugar? Estas são as questões que este estudo irá abordar. E vamos começar com uma questão de terminologia.

 

Introdução aos Termos

 
Quando se trata de terminologia, talvez o lugar para começar seja o nome do próprio Deus. Ao longo deste estudo usaremos a designação de quatro letras "YHWH" para " Yahweh" ou " Jehovah", o nome próprio de Deus, revelado e usado em todo o Antigo Testamento. (Yahweh e Jeová são simplesmente duas pronúncias alternadas do mesmo nome)
 
"YHWH - yahweh - compare tetragrammaton." - Dicionário Merriam-Webster.
 
"Tetragrammaton - as quatro letras hebraicas geralmente transliterado YHWH ou JHVH, que formam um nome bíblico próprio de Deus -. compare yahweh." – Dicionário Merriam-Webster.
 
Normalmente, traduções da Bíblia usam todas as letras maiúsculas para "SENHOR" no lugar de YHWH ou JHVH. Embora totalmente aceitável para o uso normal, o uso de um termo comum, tal como "Senhor" no lugar de "YHWH" tende a subvalorizar o fato de que esta palavra hebraica é o nome próprio de Deus. Como tal, a designação de quatro letras YHWH tem valor de identidade. Por exemplo, em português, há muitas pessoas que podem ser consideradas senhores. Assim, se um texto fosse para se referir a um anjo de Deus simplesmente como "o SENHOR", não teria a mesma conotação de ler a mesma frase referindo-se ao anjo de Deus pelo real nome próprio Yahweh ou Jehovah. O uso do nome próprio transmite a ideia de identidade específica, onde, como o termo em português "senhor", mesmo em letras maiúsculas, perde o apego a uma identidade específica, ou seja, neste caso, a identidade de Deus.
 
Além disso, devemos também notar que as discussões sobre a divindade costumam usar termos como "Trindade" e frases como "pluralidade de pessoas" e assumir uma espécie de compreensão familiar ou coloquial de tais conceitos. No entanto, a percepção comum é muitas vezes cheia de indefinição, equívocos e ambiguidade, ou simplesmente uma falta geral de cuidadosa consideração. Então, assim que nos aprofundamos neste estudo, é importante sermos mais específicos sobre esses termos e conceitos centrais.
 
Primeiro, é importante mencionar o fato amplamente reconhecido que o termo "Trindade" não aparece em qualquer lugar, quer no Antigo ou no Novo Testamento. Isto é indicado na citação abaixo da Enciclopédia Britânica. Mas esta não é e nunca foi a questão. Trinitarianos nunca afirmaram que este termo é encontrado nas Escrituras. Em vez disso, o termo "Trindade" é simplesmente um termo que foi cunhado para se referir coletivamente aos fatos que são apresentados na escritura do Velho e do Novo Testamento sobre Deus. E a partir do Novo Testamento para os primeiros escritos cristãos fora do Novo Testamento, os autores cristãos têm sempre teimosamente insistido no mesmo grupo de fatos do Velho Testamento (e Novo Testamento), que atualmente têm vindo a ser coletivamente resumidos na expressão "Trindade. "Por conseguinte, qualquer análise crítica do modelo trinitário será necessariamente investigar, validar ou invalidar esses fatos, que se unem para compor o modelo conhecido sumariamente como " A Trindade ".
 
"Trindade - Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita aparecem no Novo Testamento, nem Jesus e seus seguidores pretendem contradizer o Shemá do Velho Testamento:" Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor "(Deuteronômio 6 : 4) "- Enciclopédia Britânica.
 
Como indicado na segunda metade da citação acima, os seguidores de Jesus sempre se consideraram monoteístas, aderindo ao ensino do Velho Testamento que há um só Deus, e não muitos deuses, e nem mesmo apenas três Deuses. No entanto, os cristãos trinitários simultaneamente afirmar que embora haja um só Deus, dentro desse único Ser há três pessoas eternamente distintas.
 
É certo, no entanto, este uso simultâneo de termos como "um ser" e "três pessoas" faz pouco para esclarecer a questão ou a posição trinitária. Afinal, "pessoa" e "ser" são mais comumente considerados como sinônimos um do outro. No entanto, o trinitário parece usar "ser" e "pessoa", como se todos nós automaticamente distinguíssemos claramente entre os dois termos.
 
Consequentemente, para o ouvido comum, a frase "três pessoas em um único ser" faz tanto sentido quanto dizer, "três seres em um ser" ou "três pessoas em uma só pessoa." Obviamente, é necessário definir exatamente o que se quer dizer com esses termos tão importantes, especialmente o termo "pessoa" como ele é usado por trinitários. E, mais especificamente, é importante definir o termo "pessoa" em relação a fatos do Antigo Testamento (e Novo Testamento) em que o termo se destina à reflexão.
 
Talvez a definição mais compreensível de uma "pessoa" é uma "consciência", um "centro de consciência", ou uma "consciência de si". O dicionário Merriam Webster define "autoconsciência", como segue.
 
"Autoconsciente: consciente de seus próprios atos ou estados como pertencentes ou originários de si mesmo. Conscientes de si mesmo como um indivíduo. (Dicionário Merriam Webster)
 
O modelo trinitário é um reconhecimento dos seguintes fatos sobre Deus apresentados em ambos, no Antigo Testamento e no Novo Testamento. Primeiro, em todo o Antigo Testamento Deus se identifica por diferentes termos ou identidades, como YHWH / o Senhor, a Palavra de YHWH, o Espírito de YHWH, ou até mesmo o anjo de YHWH. No Novo Testamento, essas identidades e termos são respectivamente identificados com termos adicionais, tais como o Filho e o Espírito Santo. As ações de Deus sob esses respectivos títulos estão divididos em categorias definíveis ou tendências, indicando que esses títulos significam papéis ou identidades de Deus, não apenas nomes diferentes, nomes superficiais ou apelidos. E, como indicado anteriormente, se este primeiro fato era tudo o que havia, então alguma forma de Modalismo pode ser suficiente como a conclusão.
 
Segundo, há casos que são destaque e muito cedo no Velho Testamento, onde há comunicação entre duas dessas identidades de Deus. Encontramos esta tendência constante no Novo Testamento também. A tendência em si demonstra fatos importantes. Primeiro, demonstra que as duas identidades existem simultaneamente, em vez de fazer a transição de um ao outro em momentos diferentes. E segundo, também demonstra que cada identidade é consciente de si e as outras identidades como distintas uma da outra. Por exemplo, YHWH pode falar com o anjo de YHWH, ou o Pai pode falar com a Palavra, ou a Palavra pode falar em pedir ao Pai que envie o Espírito Santo depois a própria Palavra retorna para o pai. E estes são apenas alguns exemplos.
 
Basicamente, é a natureza de intercomunicação dessas identidades múltiplas para Deus e a distinção de um outro inerente à sua comunicação que define o conceito de consciências múltiplas dentro da divindade (três para ser exato, quando toda a análise é completa.) E, a fim de refutar o modelo trinitário, pelo menos, um dos dois componentes principais tem que ser contestado. Ou teria que ser contestado que existem múltiplas identidades para Deus no Antigo e Novo Testamento, ou teria que ser constatado que essas múltiplas identidades se intercomunicam uma com a outra. No primeiro caso, se não houver múltiplas figuras identificadas como Deus, mas as figuras adicionais sugeridas mostram que foram criados seres, então, as consciências adicionais (inconcebível) revelam-se fora da Divindade. (Neste caso, pelo menos uma visão básica Ariana seria correta). No segundo caso, se não houver intercomunicação real entre as diferentes identidades de Deus, então não há nenhuma base para sugerir algo mais do que uma consciência para a Divindade que interage com o homem em formas diferentes, identidades diferentes, papéis diferentes em momentos diferentes. (Neste caso, pelo menos, uma visão básica modalista seria correta).
 
O conceito de que múltiplas figuras são identificadas como Deus é geralmente criticado por duas razões.
 
Primeiro, argumenta-se que as figuras específicas não são realmente o Deus Supremo, mas são seres criados, ainda que eventualmente o primeiro a ser criada, a classe mais alta ou a réplica mais próxima de Deus entre toda a criação. Em outras palavras, a eternidade ou a auto existência de uma identidade particular é questionada.
 
Em segundo lugar, argumenta-se que as figuras específicas não são realmente o Deus Supremo, porque elas não têm os atributos definidores de Deus, na maioria das vezes onisciência ou onipotência, por exemplo. Se os fatos da Escritura de fato apresentarem uma das identidades deficiente em um aspecto ou outro, o modelo trinitário terá que ser capaz de apontar para alguns fatos bíblicos que explicam como ou por que este pode ser o caso, se essas identidades são verdadeiramente Deus. Caso contrário, o modelo trinitário, na melhor das hipóteses, será mostrado incompleto, ou na pior das hipóteses, incompreensível e equivocado. Uma vez que é em grande parte um assunto para outro estudo, vamos descrever brevemente a resposta agora a esta segunda crítica trinitária. Resumidamente, certas passagens dos Antigo e Novo Testamento (tais como Filipenses 2:5-11 e Êxodo 33-34, que será discutido em detalhe mais tarde) explicitamente descrevem uma diminuição voluntária do acesso ou utilização dos atributos divinos por parte de algumas das pessoas da Divindade. Essa diminuição voluntária é descrito em passagens como um facilitador necessário para certos tipos de interação, mediação, e até mesmo de resgate. Consequentemente, à luz de tais explicações explícitas no texto da própria Escritura, os exemplos particulares em que uma figura particular de YHWH mostra menos que onipotência total ou onisciência, por exemplo, não constituem evidência de que a figura não é Deus desde que a falta de atributo não é o resultado de qualquer deficiência natural inerente, mas de autolimitação. Desta forma, o Trinitarianismo sobrevive a esta segunda crítica.
 
Por outro lado, também podemos entender este tópico em termos do que é necessário para contestar as visões alternativas. O arianismo de forma genérica simplesmente nega que as "várias" figuras estão dentro da Divindade, em vez disso, rebaixam estas figuras adicionais para o status de seres criados. Consequentemente, o arianismo requer a negação de todas as instâncias em que as figuras adicionais são identificadas diretamente como YHWH Deus. Mas, como veremos as declarações em si são tão explícitas que o único recurso do arianismo é classificá-los como "figuras de linguagem." Esta é uma reivindicação puramente conveniente. Sua saída do significado normal e literal não pode ser fundamentada. Ele não pode explicar por que de outra forma aparentemente normal, declarações evidentes deverão ser convertidas em declarações soltas e incorretas. A esperança é que, por mera sugestão, vamos simplesmente descartar as implicações claras e inegáveis das palavras do próprio Deus sobre si mesmo, como estranhas, artefatos sem sentido de uma língua antiga.
 
No entanto, quando o conceito de múltiplas identidades de Deus é aceita, mas a ideia de consciência múltipla é negado, o resultado é Modalismo, que, como indicado anteriormente, ensina que há uma consciência de Deus, embora ela interaja com o homem em diferentes modos ou funções. Porque a intercomunicação envolve a existência simultânea das identidades e suas autoconsciências de distinção mútua, como indicado por suas declarações, o Modalismo requer a negação de qualquer intercomunicação real entre as identidades de Deus. E, novamente, como veremos as demonstrações em si são tão explícitas que o único recurso do Modalismo é categorizá-los como ilusória, na esperança de que vamos simplesmente descartar as implicações claras e inegáveis das palavras do próprio Deus sobre si mesmo.
 
Além disso, o conceito trinitário é também criticado com o argumento de que é logicamente absurdo ou impossível. Especificamente, como pode haver três consciências distintas em um único ser? Ou, em outras palavras, se houvesse de fato três consciências distintas, que base teríamos para considerá-las como um ser em vez de três seres? Assim, essa crítica se concentra em qual possível unidade ou unicidade pode haver entre consciências múltiplas. E, também em relação a esta questão, os trinitários devem apontar para fatos bíblicos, recursos não abstratos ou vagos, a fim de descrever satisfatoriamente como essas três consciências são unidas como um só ser.
 
Em última análise, estas questões estão relacionadas com o que define o Ser Supremo e o distingue de todos os outros seres. Essas características definidoras da Divindade são como se segue. Primeiro, nunca tendo sido criado, mas sempre tendo existido desde a eternidade. E, segundo, o fato de possuir certas características como a onisciência e onipotência. Sumariamente, o conceito trinitário exige que a Escritura apresente a existência (auto existência) eterna de múltiplas, intercomunicantes identidades de Deus e uma explicação para qualquer diferenciação potencial em habilidades, como a onisciência ou onipotência, entre essas identidades. (E já mostramos que a explicação do Trinitarianismo prevê todas as habilidades que faltam entre as pessoas divinas em determinadas passagens.)
 
Mas, antes de seguir em frente, há outro ponto de definição sobre a "consciência" que pode ser abordado agora. Uma crítica periférica que surge em relação à afirmação trinitária de consciências múltiplas dentro da Divindade é se há ou não a necessidade, a fim de separar uma consciência da outra, que tais consciências teriam que ser limitadas em seus conhecimentos, mutuamente? Em outras palavras, se uma consciência está completamente ciente de outra, elas não deveriam realmente ser consideradas a mesma consciência?
 
Em uma palavra, a resposta é não. Consciência de outra consciência não tem que ser limitada ou incompleta, de modo a ser uma consciência separada. Isto é mais claramente visto no conhecimento de Deus sobre nós como seres humanos. Deus tem conhecimento completo, íntimo de todos os nossos pensamentos, sentimentos, memórias, etc. - de tudo sobre nós - e ainda, apesar da total consciência de que a consciência de Deus tem de nossas consciências, a nossa consciência não é a consciência Dele. Enquanto panteístas ou outros pontos de vista místicos podem sustentar tal doutrina de uma consciência universal da qual todos nós somos uma parte, nem o Judaísmo antigo, nem o Judaísmo rabínico, nem o Cristianismo trinitário ou Cristianismo não-trinitário sustenta tal ideia. Independentemente de aceitarem ou rejeitarem o conceito de Trindade, judeus e cristãos professos de todos os grupos religiosos rejeitam a ideia de que nossas consciências sejam a consciência de Deus. E, consequentemente, o fato de que a consciência completa de Deus consciente de tudo sobre nós não significa que a nossa consciência seja a mesma consciência de Deus. Da mesma forma, se Deus tem múltiplas consciências, a consciência total mútua, não seria necessário que elas sejam, em última análise, uma consciência.
 

Introdução à Abordagem

 
Ao longo deste estudo, estaremos enfatizando a presença de fatos trinitários no Antigo Testamento, muitas vezes, adicionando o Novo Testamento depois, entre parênteses. Isso é intencional. A razão para essa prática decorre do fato de que o conceito trinitário é muitas vezes visto como sendo uma doutrina única e nova iniciada pelo Novo Testamento, quando, na realidade, os fatos do Antigo Testamento, de forma muito clara, apresentam a conclusão oposta. Nossa intenção foi destacar os fatos da Trindade como um fenômeno do Antigo Testamento, que o Novo Testamento apenas continua com um aumento natural em detalhes, mas sem um novo sentido chocante e drástico. Vamos demonstrar isso nos itens a seguir ao analisar fatos das escrituras sobre Deus, a partir do Antigo Testamento e, finalmente, e da mesma forma, continuar a acompanhar esses fatos no Novo Testamento.
 
No entanto, uma vez que a questão crítica da Trindade parece ser se é ou não é um ensino único e novo do Novo Testamento e, portanto, se é um conceito mosaico judaico ou um conceito gentio pagão. Vamos começar analisando a Trindade apenas como uma questão de Antigo Testamento Judeu. Só depois é que vamos abordar a Trindade em termos de argumentos e pontos de vista que surgem entre os cristãos ao examinar essas questões no Novo Testamento.
 
No entanto, como uma introdução para o nosso exame do Antigo Testamento, podemos pelo menos, oferecer a seguinte pergunta instigante. Se o conceito trinitário é único e inovador no Novo Testamento e não é apresentado ou surgiu no Antigo Testamento, então por que os "membros" da Trindade são identificados com termos usados ​​com frequência ao longo do Antigo Testamento? Os termos Pai, Palavra de Deus, ou o Espírito de Deus servem como exemplos mais proeminentes. E não queremos que o impacto desta questão seja negligenciado. Nosso ponto é, primeiramente, por que esses termos estão presentes no Antigo Testamento, e disponíveis no Novo Testamento se a visão do Novo Testamento é tão única e nova. O que esses termos estão fazendo no Antigo Testamento? O Antigo Testamento fornece uma explicação clara para esses termos que é totalmente diferente da explicação deles do Novo Testamento? O Antigo Testamento fornece alguns fatos explícitos, mas sem defini-los ou explicá-los totalmente, talvez deixando a necessidade para mais explicações? Ou, os fatos do Antigo Testamento sobre Deus são evidentes, apesar de uma dissertação completamente detalhada explicando o significado desses fatos pode estar faltando? Em outras palavras, o Antigo Testamento é simplesmente menos explícito (não fornecendo explicações definitivas), enquanto esses únicos fatos que apresenta sobre estes títulos para Deus são eles próprios idênticos ao modelo trinitário? (Isso é verdade, pelo menos a respeito do Pai e da Palavra de YHWH, mesmo que talvez menos completa sobre a terceira identidade, o Espírito de YHWH?) Por agora, nós oferecemos isto estritamente como alimento para o pensamento à medida que avançamos na analise dos fatos sobre Deus como Ele é apresentado em todo o Antigo Testamento.
 
A coisa mais importante para se ter em mente quando começamos a rever declarações do Antigo Testamento sobre Deus é como anteriores e proeminentes algumas dessas passagens são. As declarações mais controversas e críticas vêm de muito cedo, explicando pontos na história da revelação do próprio Deus ao povo judeu, incluindo na vida dos patriarcas, como Abraão, Jacó e Moisés. Isto é extremamente importante por três razões associadas.
 
Primeiro, os conceitos encontrados nessas passagens não podem ser consideradas como conceitos divergentes de desenvolvimentos posteriores no judaísmo, mas deve ser considerado como o judaísmo fundamental e original.
 
Segundo, os conceitos encontrados nessas passagens não podem ser considerados como resultantes de influência pagã, uma vez que estes patriarcas e os eventos envolvidos são considerados pelo povo judeu como os próprios fundamentos que definem o judaísmo em distinção a outras religiões e filosofias.
 
E, terceiro, os conceitos encontrados nessas passagens anteriores e proeminente devem ser considerados como o fornecimento de definição precedente que serve de base para todas as passagens posteriores, que descrevem eventos similares ou relacionados. Em outras palavras, deve-se presumir que os autores das escrituras judaicas posteriores estavam bem familiarizados e eram fiéis seguidores da instrução anterior e história judaica. Consequentemente, eles não só entenderam as suas próprias experiências em relação a essa história, mas quando eles escreveram seus relatos, eles pretendiam que suas palavras fossem compreendidas como uma continuidade dos antigos registros judeus. Como resultado, as passagens posteriores da escritura judaica terão como base a escritura anterior e assumiremos que o público deixará que os detalhes de passagens anteriores e proeminentes expliquem sua interpretação de registros posteriores. À luz disto, nós também construiremos a nossa compreensão da Divindade assumindo que eventos similares ou relacionados, que ocorrem posteriormente, devem ser interpretados com base em eventos gravados anteriormente, ao invés de serem interpretados a partir de um vácuo.
 

Introdução às principais objeções

 
A primeira questão do Antigo Testamento é relativa a uma pluralidade de consciências dentro da divindade e está relacionada a Deuteronômio 6:4, uma passagem muito importante do Velho Testamento que é comumente conhecido pelos judeus como o Shemá.
 
"Trindade - Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita aparecem no Novo Testamento, nem Jesus e seus seguidores pretendem contradizer o Shemá do Velho Testamento:" Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor "(Deuteronômio 6: 4)”. Enciclopédia Britânica.
 
O judaísmo moderno, que é reconhecidamente o produto do ensino rabínico através dos séculos, interpreta este versículo como se fosse uma declaração sobre a natureza da própria divindade e, portanto, uma proibição contra qualquer sugestão de uma pluralidade de consciência dentro da Divindade. E, apesar de o judaísmo rabínico moderno ser bastante claro quanto à sua interpretação do Deuteronômio 6:4, duas questões permanecem. Primeiro, a insistência do judaísmo moderno em afirmar que Deuteronômio 6:4 é sobre a natureza da própria divindade (o número de pessoas na Divindade) é, na verdade, um desenvolvimento relativamente recente na teologia judaica que surgiu como uma reação e uma tentativa de repudiar o cristianismo como uma seita do judaísmo? E, segundo, os antigos judeus igualmente interpretam Deuteronômio 6:4 como uma declaração de que YHWH deve ser entendido como um ser composto de apenas uma pessoa, identidade, ou consciência?
 
Essas perguntas são importantes. E respondendo a segunda pergunta, na verdade, responde-se também a primeira pergunta. Porque, se os judeus antigos interpretaram o Deuteronômio de tal forma que lhes permitiu considerar várias pessoas dentro da Divindade de YHWH, então fica comprovada que a interpretação do judaísmo rabínico de Deuteronômio 6:4 é uma reação exagerada contra o cristianismo que se desvia de suas próprias raízes teológicas. Então, fundamentalmente, precisamos entender como os judeus, que antecedem o judaísmo rabínico moderno, interpretaram o Deuteronômio 6:4. Podemos determinar isso, examinando duas fontes do ensino judaico antigo: primeiro, os próprios escritos do Antigo Testamento e segundo, os escritos rabínicos dos primeiros séculos antes e depois de Jesus Cristo, que antecedem o judaísmo moderno. Já que o nosso foco está atualmente em estabelecer a compreensão judaica das primeiras fontes, ou seja, o Antigo Testamento, vamos pôr de lado os exames dos escritos rabínicos mencionados anteriormente até uma parte posterior do estudo. Por agora, vamos continuar examinando o significado de Deuteronômio 6:4 estritamente em termos do Antigo Testamento.
 
Há três questões que demonstram que Deuteronômio 6:4 não pode ser adequadamente interpretado como uma declaração sobre a natureza da própria Divindade.
 
Primeiro, Deuteronômio 6:4 é uma declaração muito curta. Ele não contem qualquer explicação mais detalhada, nem no contexto circundante, ou nos capítulos anteriores. Para demonstrar este fato, o contexto estendido é fornecido abaixo.
 
NVI - Deuteronômio 6:1 Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram na terra para a qual estão indo para dela tomar posse. 2 Desse modo vocês, seus filhos e seus netos temerão ao Senhor, o seu Deus, e obedecerão a todos os seus decretos e mandamentos, que eu lhes ordeno, todos os dias da sua vida, para que tenham vida longa. 3 Ouça e obedeça, ó Israel! Assim tudo lhe irá bem e você será muito numeroso numa terra onde manam leite e mel, como lhe prometeu o Senhor, o Deus dos seus antepassados. 4 Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. 5 Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.
 
Quando olhamos para os versículos relacionados em Deuteronômio 6, vemos que não há comentários sobre a possibilidade de várias pessoas dentro da Divindade. E veremos este ponto provado mais extensivamente quando examinarmos ainda mais o contexto envolvido em Deuteronômio 6. Mas, o ponto aqui é este. Uma vez que o contexto envolvido em Deuteronômio 6 não faz absolutamente nenhum comentário sobre a pluralidade de pessoas na Divindade e não o versículo 4 não fica definido como uma declaração sobre essa questão, isto nos deixa na seguinte situação. Efetivamente, admitir que o Deuteronômio seja destinado a abordar (e negar) a possibilidade de uma pluralidade dentro da Divindade é admitir que a possibilidade de uma pluralidade dentro da Divindade de YHWH já estava sob consideração nas mentes do povo judeu. Na verdade, isso não só indicaria que a possibilidade de pluralidade foi uma conclusão que os judeus estavam considerando, mas era algo tão familiar para eles que não precisa de introdução ou uma explicação no comentário envolvido. Mas, se o povo judeu já estava considerando o potencial de uma pluralidade de pessoas em Deus YHWH, temos que perguntar de onde tiraram essa ideia. Este dilema, por si só, implica que há elementos que sugerem várias pessoas nas escrituras judaicas que vêm antes da Shemá.
 
Pode ser conveniente apontar para os casos de agrupamento de deuses pagãos, em que três deuses individuais estão intimamente relacionados um com o outro. No entanto, teríamos que considerar ou não se os pontos de vista pagãos eram perversões obtidas do Velho Testamento judaico. Em outras palavras, é historicamente possível que a Trindade tenha origem no Antigo Testamento Judaísmo e tenha sido copiada e distorcida pelos pagãos, em vez de o contrário, em que a Trindade começa entre os pagãos e é copiada pelos cristãos. Consequentemente, a fim de resolver essas possibilidades, seria preciso considerar se o povo judeu poderia ter a ideia de uma pluralidade dentro YHWH em suas mentes já como resultado de suas próprias experiências e as experiências de seus ancestrais antes dessa passagem em Deuteronômio. Afinal, Deuteronômio é o quinto e último dos livros de Moisés. Isto significa que todas as interações entre Abraão, Isaac e Jacó, todas as interações de Moisés, e todas as suas próprias interações com Deus, durante o Êxodo, influenciariam, muito diretamente, suas percepções sobre a natureza de YHWH. Isso será importante daqui a pouco, quando considerarmos as declarações explícitas sobre a relação entre YHWH e o anjo de YHWH como descrito de Gênesis até Êxodo e Números. Todos esses incidentes precedem o Deuteronômio e teria instruído a compreensão da natureza de YHWH dos israelitas na época de Deuteronômio 6.
 
No entanto, o primeiro ponto aqui é simples. Visto que, Deuteronômio 6:4 é, por si só, muito curto e conciso e não é acompanhado por nenhum comentário explicativo ampliado, afirmar que Deuteronômio 6:4 destinava-se a abordar a possibilidade de uma pluralidade dentro da Divindade de YHWH é admitir que os judeus daquele tempo tinham motivos para pensar que pode ter havido tal pluralidade de pessoas em um Ser conhecido como YHWH. E essa admissão, por si só, abre a possibilidade de que as interações e revelações anteriores de YHWH, previamente registradas pelos judeus, antes de Deuteronômio, levantaram a possibilidade de várias pessoas existirem dentro da Divindade de YHWH.
 
Segundo, embora o contexto envolvido em Deuteronômio 6:4 seja totalmente ausente de qualquer discussão a respeito da natureza da Trindade ou a da questão de uma pluralidade de pessoas na Divindade, o que encontramos no contexto envolvido indica uma interpretação completamente diferente de Deuteronômio 6:4, uma que não tem nada a ver com a natureza da Trindade ou a pluralidade de consciências dentro YHWH, seja qual for. Em vez de ser uma declaração sobre questões internas da Divindade, dentro da natureza do próprio YHWH, Deuteronômio 6:4 foi uma declaração, para os judeus, sobre questões externas. Em vez de comentar o número de consciências dentro de YHWH, Deuteronômio 6:4 foi claramente destinado a contrastar YHWH com a possibilidade de outros deuses fora de YHWH. Em suma, este versículo é sobre YHWH versus outras divindades concorrentes. Não é sobre a natureza própria de YHWH ou questões internas de YHWH em Si. E isso é muito claro a partir do contexto envolvido. Se olharmos novamente em Deuteronômio 6:4, encontramos o seguinte.
 
NVI - Deuteronômio 6:1 Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram na terra para a qual estão indo para dela tomar posse. 2 Desse modo vocês, seus filhos e seus netos temerão ao Senhor, o seu Deus, e obedecerão a todos os seus decretos e mandamentos, que eu lhes ordeno, todos os dias da sua vida, para que tenham vida longa. 3 Ouça e obedeça, ó Israel! Assim tudo lhe irá bem e você será muito numeroso numa terra onde manam leite e mel, como lhe prometeu o Senhor, o Deus dos seus antepassados. 4 Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. 5 Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.
 
O versículo 1 do Deuteronômio 6 é uma referência à revelação antiga dos mandamentos de Deus. O versículo 5, o que vem logo depois do Shemá no versículo 4, é amar YHWH com todo o coração, alma e força. Ambos os mostram uma semelhança entre a Shemá e os Dez Mandamentos, os quais foram originalmente passados no Êxodo 20:1-17 e que proíbem a adoração de deuses, à exceção de YHWH. Na verdade, todo o Deuteronômio 5, o capítulo anterior e o contexto envolvido para a Shemá no capítulo 6:4 são uma reafirmação dos Dez Mandamentos.
 
NVI - Deuteronômio 5:1 Então Moisés convocou todo o Israel e lhe disse: Ouçam, ó Israel, os decretos e as ordenanças que hoje lhes estou anunciando. Aprendam-nos e tenham o cuidado de cumpri-los. 2 O Senhor, o nosso Deus, fez conosco uma aliança em Horebe. 3 Não foi com os nossos antepassados que o Senhor fez essa aliança, mas conosco, com todos nós que aqui hoje estamos vivos. 4 O Senhor falou com vocês face a face do meio do fogo, no monte. 5 Naquela ocasião eu fiquei entre o Senhor e vocês para declarar-lhes a palavra do Senhor, porque vocês tiveram medo do fogo e não subiram o monte. E ele disse: 6 "Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirei do Egito, da terra da escravidão. 7 "Não terás outros deuses além de mim. 8 "Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou nas águas debaixo da terra. 9 Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelo pecado de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, 10 mas trato com bondade até mil gerações os que me amam e guardam os meus mandamentos. 11 "Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem usar o seu nome em vão. 12 "Guardarás o dia de sábado a fim de santificá-lo, conforme o Senhor, o teu Deus, te ordenou. 13 Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, 14 mas o sétimo dia é um sábado para o Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu nem teu filho ou filha, nem o teu servo ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou qualquer dos teus animais, nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu. 15 Lembra-te de que foste escravo no Egito e que o Senhor, o teu Deus, te tirou de lá com mão poderosa e com braço forte. Por isso o Senhor, o teu Deus, te ordenou que guardes o dia de sábado. 16 "Honra teu pai e tua mãe, como te ordenou o Senhor, o teu Deus, para que tenhas longa vida e tudo te vá bem na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá. 17 "Não matarás. 18 "Não adulterarás. 19 "Não furtarás. 20 "Não darás falso testemunho contra o teu próximo. 21 "Não cobiçarás a mulher do teu próximo. Não desejarás a casa do teu próximo, nem sua propriedade; nem seu servo ou serva; nem seu boi ou jumento; nem coisa alguma que lhe pertença". 22 Essas foram as palavras que o Senhor falou a toda a assembleia de vocês, em alta voz, no monte, do meio do fogo, da nuvem e da densa escuridão; e nada mais acrescentou. Então as escreveu em duas tábuas de pedra e as deu a mim.
 
Como podemos ver, o capítulo anterior antes da Shemá é todo sobre YHWH versus outros deuses. Os versículos de 6 a 9 são explícitos a esse respeito. Além disso, após o Shemá, o Deuteronômio 6 continua a reiterar esta questão de servir YHWH ao invés de outros deuses além de YHWH.
 
NVI - Deuteronômio 6:6 Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. 7 Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. 8 Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. 9 Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões. 10 O Senhor, o seu Deus, os conduzirá à terra que jurou aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó, que daria a vocês, terra com grandes e boas cidades que vocês não construíram, 11 com casas cheias de tudo que há de melhor, de coisas que vocês não produziram, com cisternas que vocês não cavaram, com vinhas e oliveiras que não plantaram. Quando isso acontecer, e vocês comerem e ficarem satisfeitos, 12 tenham cuidado! Não esqueçam o Senhor que os tirou do Egito, da terra da escravidão. 13 Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome. 14 Não sigam outros deuses, os deuses dos povos ao redor; 15 pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso; a ira do Senhor, o seu Deus, se acenderá contra vocês, e ele os banirá da face da terra.
 
Os versos 12-14 são novamente muito explícitos. O foco de ambos os Capítulos 5 e 6 está em adorar YHWH contra adorar outros deuses além de YHWH. O contexto revela que o Shema ("Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor") tem a ver com Israel adorando apenas YHWH. Deuteronômio 6:4 é sobre os israelitas não terem outros deuses além de YHWH, além de YHWH. Ele possui significado idêntico ao significado de Êxodo 20, Deuteronômio 32, Isaías 44, e Isaías 45, todos são sobre outros deuses, “além de" YHWH, e não sobre o número ou consciências dentro YHWH em si mesmo.
 
NVI - Êxodo 20:2 "Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão. 3 "Não terás outros deuses além de mim.
NVI - Deuteronômio 32:31 Pois a rocha deles não é como a nossa Rocha, com o que até mesmo os nossos inimigos concordam. 32 A vinha deles é de Sodoma e das lavouras de Gomorra. Suas uvas estão cheias de veneno, e seus cachos, de amargura. 33 O vinho deles é a peçonha das serpentes, o veneno mortal das cobras. 34 "Acaso não guardei isto em segredo? Não o selei em meus tesouros? 35 A mim pertence a vingança e a retribuição. No devido tempo os pés deles escorregarão; o dia da sua desgraça está chegando e o seu próprio destino se apressa sobre eles. " 36 O Senhor julgará o seu povo e terá compaixão dos seus servos, quando vir que a força deles se esvaiu e que ninguém sobrou, nem escravo nem livre. 37 Ele dirá: "Agora, onde estão os seus deuses, a rocha em que se refugiaram, 38 os deuses que comeram a gordura dos seus sacrifícios e beberam o vinho das suas ofertas derramadas? Que eles se levantem para ajudá-los! Que eles lhes ofereçam abrigo! 39 "Vejam agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há deus além de mim. Faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão. 40 Ergo a minha mão para os céus e declaro: Juro pelo meu nome que,
 
NVI - Isaías 44:8 Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei isto e não o predisse muito tempo atrás? Vocês são minhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não, não existe nenhuma outra Rocha; não conheço nenhuma."
NVI - Isaías 45:5 Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro; além de mim não há Deus. Eu o fortalecerei, ainda que você não tenha me admitido, 6 de forma que do nascente ao poente saibam todos que não há ninguém além de mim. Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro.
NVI - Isaías 45:16 Todos os que fazem ídolos serão envergonhados e constrangidos; juntos cairão em constrangimento. 17 Mas Israel será salvo pelo Senhor com uma salvação eterna; vocês jamais serão envergonhados ou constrangidos, por toda a eternidade. 18 Pois assim diz o Senhor, que criou os céus, ele é Deus; que moldou a terra e a fez, ele a fundou; ele não a criou para estar vazia, mas a formou para ser habitada; ele diz: "Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro. 19 Não falei secretamente, de algum lugar numa terra de trevas; eu não disse aos descendentes de Jacó: ‘Procurem-me à toa’. Eu, o SENHOR, falo a verdade; eu anuncio o que é certo". 20 "Ajuntem-se e venham; reúnam-se, vocês, fugitivos das nações. Ignorantes são aqueles que levam de um lado para outro imagens de madeira, que oram a deuses que não podem salvar. 21 Declarem o que deve ser, apresentem provas. Que eles juntamente se aconselhem. Quem há muito predisse isto, quem o declarou desde o passado distante? Não fui eu, o Senhor? E não há outro Deus além de mim, um Deus justo e salvador; não há outro além de mim. 22 "Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro.
 
O significado de Deuteronômio 6:4 é claro. É uma declaração sobre questões externas à divindade, um contraste entre YHWH e outros supostos deuses. Trata-se de YHWH ser superior e único entre todos os outros seres que são chamados de deuses. É um contraste externo entre YHWH e seus "concorrentes" e Israel sendo fiel somente a ele, em vez de seus "concorrentes". Não é uma declaração sobre questões internas à divindade, sobre qual a natureza de YHWH ou quanto ao número de pessoas dentro da divindade de YHWH. Poderia ser dez ou cem consciências diferentes dentro do ser de YHWH e Deuteronômio 6:4 ainda seria apenas sobre adorar YHWH (com todas as suas consciências múltiplas), em vez de outros seres que foram falsamente considerados "deuses" pelos homens. Em outras palavras, o conceito de Trindade levanta uma questão bem diferente da questão comentada no Shema de Deuteronômio 6:4. Deuteronômio 6 aborda se há ou não mais de um deus, ou se não existem outros deuses além de YHWH. A Trindade, no entanto, discute uma questão diferente: quantas consciências existem dentro de YHWH, o único Deus. Como já vimos, e continuaremos a demonstrar, Deuteronômio 6 não faz afirmações sobre esta segunda questão, faz apenas sobre a primeira.
 
Efetivamente, ao interpretar Deuteronômio 6:4 como uma declaração sobre a natureza da Divindade em si, como uma declaração sobre a pluralidade de pessoas na Divindade, e não como uma declaração comparando YHWH externamente para a possibilidade de outras divindades, além dele, o judaísmo rabínico moderno é culpado de revisionismo. Eles estão reescrevendo a história apenas como uma reação para repudiar o cristianismo.
 
Terceiro, não é apenas o contexto da Shemá em Deuteronômio 6:4, que revela que não é uma declaração sobre a natureza da Divindade, mas sobre questões externas à divindade, mas o texto da Shemá em si não proíbe de forma alguma a ideia de várias pessoas dentro da divindade de YHWH. Muitas vezes, a percepção é de que a palavra "único" na frase "Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor" destina-se a dizer que Deus é totalmente singular na natureza em vez de ter distintas "partes" ou "aspectos", tais como uma pluralidade de pessoas ou consciências. No entanto, a ocorrência da palavra hebraica para "único" em Deuteronômio 6:4 não faz tais afirmações, de forma alguma. Há duas razões para isso.
 
Primeiro, como já vimos, a clara intenção da passagem é revelado no contexto envolvido. A declaração de Israel de que YHWH é "único" é para dizer que YHWH é único entre todos os supostos deuses dos homens. Ele está sozinho e nenhum dos outros deuses é como Ele. E, como tal, os israelitas devem a sua lealdade apenas a Ele. Esse é o significado de "único", como revelado por seu contexto envolvido. Isso significa que "apenas" no sentido de ser "único." E, na verdade, a palavra hebraica aqui para "único" é "echad" (Strong n º 0259) e ele inclui a conotação de "apenas" no sentido de "único." Por exemplo, no Cântico de Salomão "echad" é ​​usado para descrever a mulher amada como a única filha de sua mãe. Ela era única sob esse aspecto.
 
NVI - Cânticos de Salomão 6:9 Mais uma só é a minha pomba, a minha imaculada, de sua mãe, a única (0259), a predileta daquela que a deu à luz; viram-na as donzelas e lhe chamaram ditosa; viram-na as rainhas e as concubinas e as louvaram.
 
"Echad" também é usada com este significado em Ezequiel 7, onde se refere a "um só mal." Deve-se notar que a palavra hebraica para o "mal" também pode significar "calamidade". Consequentemente, o texto claramente não afirma que este é o único mal ou calamidade, mas apenas que é uma calamidade única e sem igual.
 
ACF - Ezequiel 07:05 Assim diz o Senhor DEUS: Um mal, eis que um só (0259) mal vem. 6 Vem o fim, o fim vem, despertou-se contra ti; eis que vem.
 
Da mesma forma, quando se fala de um dia mais incomum, que não será nem claramente iluminado, nem claramente escuro, não sendo nem dia nem noite. Afinal, quando Deus criou os dias em Gênesis 1, Ele estabeleceu que cada um seguiria o padrão de escuridão e depois luz (Gênesis 1:5). Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite (Strong n º 06153). Entre todos os dias desde o início dos tempos, esse dia é único. E, nesta base, esse dia é descrito como "echad", que significa "único" entre todos os dias.
 
ARA - Zacarias 14:6 Acontecerá, naquele dia, que não haverá luz, mas frio e gelo. 7 Mas será um dia singular (0259) conhecido do Senhor; não será nem dia nem noite, mas haverá luz à tarde.
 
Consequentemente, o contexto de Deuteronômio 6 sugere que "echad" está sendo usado para indicar "um" no sentido de "apenas" ou "unicidade" entre todos os que são chamados de deuses. YHWH Deus é único. Ele é o único Deus, mesmo que os outros sejam falsamente chamados por esse termo. E já que o contexto sugere "único" entre potenciais concorrentes, não é correto afirmar que "echad" se refira a "uma" consciência dentro do próprio ser de YHWH.
 
E este é o entendimento de "echad" em Deuteronômio 6:4, que "único" não é simplesmente um conceito cristão. Judeu e cristão, Dr. Michael L. Brown explica este fato no volume 2 dá série Answering Jewish Objections to Jesus.
"Por esta razão, o NJPSV [New Jewish Publication Society Version] traduz Deuteronômio 6:4 como: 'Ouve, ó Israel! O Senhor é nosso Deus, o Senhor sozinho. "Na verdade, a nota de rodapé na NJPSV nos lembra que este é também o entendimento dos reverenciados, comentaristas da Idade Média Abraham Ibn Ezra e Rashbam (Rabino Shmuel Ben Meir). Portanto, não é apenas um ‘argumento cristão posterior' que Deuteronômio 6:4 especificamente não ensina que Deus é uma unidade absoluta "-. Brown, Answering Jewish Objections to Jesus, Volume 2, objeções teológicas, p. 6
Cristãos e proeminentes judeus ortodoxos estão de acordo que Deuteronômio 6:4 é sobre YHWH sendo apenas o Deus de Israel, não outros deuses além dele. Não é uma declaração abordando a natureza interna do número de consciências ou pessoas dentro do próprio YHWH.
 
Segundo, o hebraico "echad" simplesmente exclui qualquer possibilidade de múltiplas "partes" ou "aspectos" dentro de um único e abrangente todo. A ideia de um todo maior que tem várias "partes" ou "aspectos" é muitas vezes referida como uma "unidade composta". "Echad" não exclui "unidade composta." Pelo contrário, nas muitas vezes que "echad" é ​​usado, se refere especificamente a um conceito ou item que tem unidade composta. Um estudo simples do uso da palavra "echad" no Antigo Testamento revela esse fato óbvio. Por exemplo, Gênesis 2:24 afirma que um homem casado e a mulher se tornam "uma só carne", usando a palavra "echad" para "um" para essa declaração.
 
NVI - Gênesis 2:23 Disse então o homem: "Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada". 24 Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só (0259) carne.
Gênesis 1:5 da mesma forma refere-se ao dia e á noite, em conjunto compreendendo "um / echad" dia.
 
NVI - Gênesis 1:5 Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o primeiro (0259) dia.
Gênesis 11:6 refere-se à multidão de pessoas na torre de Babel como "um / echad" povo.
 
NVI - Gênesis 11:6 E disse o Senhor: "Eles são um só (0259) povo e falam uma só (0259) língua, e começaram a construir isso. Em breve nada poderá impedir o que planejam fazer.
E quando o santuário do tabernáculo foi construído por Moisés no deserto, tem muitas partes, mas foi dito para Moisés colocar todas as partes juntas, de modo que será "um / echad" ou tabernáculo "unido".
 
NVI - Êxodo 25:1 Disse o Senhor a Moisés: 2 "Diga aos israelitas que me tragam uma oferta. Receba-a de todo aquele cujo coração o compelir a dar... 8 E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles. 9 Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo do tabernáculo e de cada utensílio... 26:6 Faça também cinquenta colchetes de ouro com os quais se prenderão as cortinas internas uma na outra, para que o tabernáculo seja um (0259) todo 11 Em seguida faça cinquenta colchetes de bronze e ponha-os nas laçadas para unir a tenda como um (0259) todo.
NVI - Êxodo 36:13 Depois fez cinqüenta ganchos de ouro e com eles prendeu um conjunto de cortinas internas ao outro, para que o tabernáculo formasse um (0259) todo... 18 Fez também cinqüenta ganchos de bronze para unir a tenda, formando um (0259) todo.
 
Se Adão e Eva (e todos os homens e mulheres casados) podem ser chamados "echad" carne, mesmo que eles sejam claramente distinguíveis no corpo e como pessoas, então por que a afirmação de que YHWH é YHWH echad em Deuteronômio 6:4 torna impossível que YHWH temha várias e distintas "partes", como consciências ou pessoas? Se todas as muitas pessoas na torre de Babel podem ser descrias como "echad", então por que não poderiam as consciências múltiplas dentro de YHWH serem consideradas "echad"? Se coisas tão distintas como a luz do dia e a escuridão da noite podem ser consideradas "echad", então por que o uso de "echad" em Deuteronômio 6:4 torna impossível as distinções de qualquer espécie dentro da Divindade de YHWH? Se o tabernáculo sagrado com todo a multidão de sua peças podem ser unidas por um mero humano de modo que possa ser considerado "echad" ou "unido", então por que não poderiam as consciências múltiplas dentro da Divindade serem unidas como "echad" e perfeitamente "unidas como um" por alguns meios espirituais? (Os meios espirituais da unidade não são deixados vagos ou indefinidos. Ao invés disso, a doutrina trinitária sustenta que as três consciências de Deus são um ser, porque todos eles estão eternamente unidos devido ao fato de que eles são todos compostos da mesma substância, indivisível eterna, conhecido como "espírito." Vamos discutir isso com mais detalhes mais tarde, no nosso estudo.)
 
Claramente nada sobre qualquer contexto ou o vocabulário de Deuteronômio 6:4 é contrário à conclusão trinitária que dentro da Divindade de YHWH há uma pluralidade de consciências distintas. E com as proibições alegadas de uma pluralidade dentro da Divindade dissipadas, agora podemos passar a considerar os textos do Antigo Testamento que levantam a questão da pluralidade.
 

Introdução à Prova

 
Talvez um dos fatores contribuintes mais importante responsável ​​por levantar questões sobre a natureza e o número de pessoas na Divindade é a figura conhecida no Antigo Testamento como o anjo de YHWH. E é aqui que o nosso exame da prova começa.
 
Há 63 versículos do Antigo Testamento, onde as palavras "YHWH" (Strong n º 03.068) e "anjo" ocorrem juntas. Esses 63 versículos estão em 24 passagens. Dessas 24 passagens, 4 não colocam essas palavras juntas na frase "anjo de YHWH" e, consequentemente, não está claro se a passagem está ou não se referindo especificamente a "o anjo de YHWH" (Gênesis 24, Números 20 , 2 Samuel 14, e 1 Reis 13). Outras duas das 24 passagens (Salmos 34 e 35) parece ser algo hipotético ou uma oração envolvendo o anjo de YHWH, mas não um evento que realmente ocorreu com essa figura. Além disso, o conteúdo dessas passagens não traz nenhuma novidade para os problemas em análise, nada que não esteja explicitamente presentes nas outras passagens. Isso remove seis passagens da lista de 24, resultando em apenas 18 passagens que realmente descrevem acontecimentos envolvendo o anjo de YHWH.
Além disso, uma das 24 passagens (Zacarias 12) também não é uma descrição de eventos reais ou interações com o anjo de YHWH, mas uma comparação envolvendo o anjo de YHWH. No entanto, o texto da comparação é significativo e por isso será incluído na análise. Isso deixa apenas 17 passagens onde acontecimentos reais que envolvem o anjo de YHWH são registrados.
 
Dentro dessas 17 passagens restantes, há dois grupos de relatos paralelos encontradas em livros diferentes, incluindo cinco passagens totais. O grupo 1 inclui 2 Samuel 24 e 1 Crônicas 21 e o grupo 2 inclui 1 Reis 19, 2 Crônicas 32 e Isaías 37. Desde que as 5 passagens realmente só registram dois eventos com o anjo de YHWH, em vez de 5, realmente há apenas 14 eventos distintos que envolvem o anjo de YHWH no Antigo Testamento (Gênesis 16, Gênesis 22, Êxodo 3, Números 22, Juízes 2, Juízes 5, 6 juízes, juízes 13, 2 Samuel 24/1 Crônicas 21, 1 Reis 19, 2 Reis 1, 2 Reis 19/2 Crônicas 32/Isaias 37, Zacarias 1, e Zacarias 3).
Desses 14 eventos reais que envolvem o anjo de YHWH, três dessas passagens não contêm quaisquer declarações explícitas que são relevantes para as questões em análise. Juízes 2 parece ser o anjo de YHWH falando ao povo de Israel, tal como nos dias de Moisés, mas o texto não apresenta quaisquer dados novos ou relevantes para as questões em análise. 1 Reis 19 e 2 Reis 1 registram 2 interações separadas entre Elias e o anjo de YHWH. Em 1 Reis 19:7-15, há o possível uso intercambiável de "anjo de YHWH" e "Palavra de YHWH" (semelhante a Zacarias 1, que é explícito). E em 1 Reis 19, há também o potencial que o anjo de YHWH é referido como YHWH (supondo que ele é o anjo de YHWH que passa por Elias no monte). 2 Reis 1 simplesmente registra o anjo de YHWH falando uma mensagem para Elias. Mas, o texto nestas passagens não apresenta dados explícitos que são relevantes para os temas em exame.
 
Isso deixa apenas 11 eventos envolvendo o anjo de YHWH onde o texto apresenta relatos explícitos, dados relevantes que levantam questões importantes sobre a natureza da Divindade. E, como mencionado anteriormente, Zacarias 12 também é relevante, proporcionando o décimo segundo estudo do décimo segundo caso, apesar de não descrever um evento, mas apenas uma comparação envolvendo o anjo de YHWH. Assim, no total, existem 12 casos que são relevantes para este estudo e os 12 casos são registrados em 12 passagens primárias mais 3 passagens paralelas.
 
Estes 14 casos podem ser divididos em duas categorias que refletem as importantes questões levantadas a respeito da natureza da Divindade: A) instâncias, onde YHWH Deus e o anjo de YHWH são distintos um do outro e B) casos em que o anjo de YHWH é ele mesmo explicitamente referido como YHWH ou Deus.
 
Como mencionado anteriormente, esta lista de 12 casos foi composta por fazer uma busca exaustiva para os termos "YHWH" e "anjo" no Antigo Testamento. Se somarmos a esta lista uma segunda pesquisa para os termos "Deus" e "anjo" no Antigo Testamento, encontramos cerca de 21 versículos onde aparecem os termos "anjo" e "Deus”.
 
Desses 21, quatro usam os termos "anjo" e "Deus" separadamente, então a frase-chave "o anjo de Deus" não ocorre. Um adicional de quatro versos são comparações com o anjo de Deus e não fornecem nenhuma informação explícita que pertence ao tema de diversas pessoas dentro da Divindade. Além disso, 10 destes versos coincidem com as passagens já relatadas na pesquisa anterior para "o anjo de YHWH." Consequentemente, há apenas um total de três novas passagens envolvendo o "anjo de Deus", que são relevantes para os temas em investigação (Gênesis 21, Gênesis 31, e Êxodo 14). Isso nos leva a um total de 15 casos. No entanto, embora os acontecimentos de Gênesis 31 podem ser classificados na categoria B (um caso em que o anjo de Deus é identificado como Deus), o texto não é explícito o suficiente sobre esse ponto. Em Gênesis 31, o anjo de Deus visita Jacob em um sonho em que o anjo diz: "Eu sou o Deus de Betel." No entanto, em contraste com as outras instâncias sobre esta lista, neste caso em Gênesis 31 pode simplesmente ser interpretado como o anjo falando em nome de Deus. Consequentemente, uma vez que não é explícito o suficiente, ele será deixado de fora da lista de casos em estudo, elevando o número total de casos em análise para 14.
 
Uma vez que estamos combinando duas análises separadas envolvendo as frases "anjo de YHWH" e "anjo de Deus", o próximo passo importante é estabelecer que estas duas frases são de fato sinônimos uma para a outra como ditada pelo próprio Antigo Testamento. Nós não estamos simplesmente combinando-as por conveniência ou por razões externas. Este fato é demonstrado pelo uso intercambiável ​​dessas frases individuais dentro de passagens do Antigo Testamento. Por exemplo, os versículos 11-12 e 21-22 de Juízes 6 usam a frase "anjo de YHWH", enquanto o versículo 20 refere-se à mesma figura como "o anjo de Deus".
 
NVI - Juízes 6:11 Então o Anjo do Senhor veio e sentou-se sob a grande árvore de Ofra, que pertencia ao abiezrita Joás. Gideão, filho de Joás, estava malhando o trigo num tanque de prensar uvas, para escondê-lo dos midianitas. 12 Então o anjo do Senhor apareceu a Gideão e lhe disse: "O Senhor está com você, poderoso guerreiro"... 20 E o Anjo de Deus lhe disse: "Apanhe a carne e os pães sem fermento, ponha-os sobre esta rocha e derrame o caldo". Gideão assim o fez. 21 Com a ponta do cajado que estava em sua mão, o Anjo do Senhor tocou a carne e os pães sem fermento. Fogo subiu da rocha, consumindo a carne e os pães. E o Anjo do Senhor desapareceu. 22 Quando Gideão viu que era o Anjo do Senhor, exclamou: "Ah, Senhor Soberano! Vi o Anjo do Senhor face a face!
 
Da mesma forma, versículos 3, 13, 15, 16, 17, 18, 20, 21 e 13 de Juízes, todos fazem uso da frase "o anjo de YHWH", no entanto versículo 9 usa a frase "o anjo de Deus", em referência à mesma figura.
 
NVI - Juízes 13:3 Certo dia o anjo do Senhor apareceu a ela e lhe disse: "Você é estéril, não tem filhos, mas engravidará e dará à luz um filho... 9 Deus ouviu a oração de Manoá, e o anjo de Deus veio novamente falar com a mulher quando ela estava sentada no campo; Manoá, seu marido, não estava com ela. 10 Mas ela foi correndo contar ao marido: "O homem que me apareceu outro dia está aqui!... 13 O Anjo do Senhor respondeu: "Sua mulher terá que seguir tudo o que eu lhe ordenei. 14 Ela não poderá comer nenhum produto da videira, nem vinho ou bebida fermentada, nem comer nada impuro. Terá que obedecer a tudo o que lhe ordenei". 15 Manoá disse ao Anjo do Senhor: "Gostaríamos que ficasses conosco; queremos oferecer-te um cabrito"16 O anjo do Senhor respondeu: "Se eu ficar, não comerei nada. Mas, se você preparar um holocausto, ofereça-o ao Senhor". Manoá não sabia que ele era o anjo do Senhor. 17 Então Manoá perguntou ao anjo do Senhor: "Qual é o teu nome, para que te prestemos homenagem quando se cumprir a tua palavra? " 18 E o Anjo do Senhor respondeu: "Por que pergunta o meu nome? Meu nome está além do entendimento". 19 Então Manoá apanhou um cabrito e a oferta de cereal, e os ofereceu ao Senhor sobre uma rocha. E o Senhor fez algo estranho enquanto Manoá e sua mulher observavam: 20 Quando a chama do altar subiu ao céu, o Anjo do Senhor subiu na chama. Vendo isso, Manoá e à sua mulher prostraram-se, rosto em terra. 21 Como o Anjo do Senhor não voltou a manifestar-se a Manoá e à sua mulher, Manoá percebeu que era o Anjo do Senhor.
 
Consequentemente, está claro a partir dessas duas passagens que os títulos de "anjo de YHWH" e "anjo de Deus" são sinônimos. E isso não deve causar nenhuma surpresa, já que, afinal de contas, YHWH é Deus e os termos "YHWH" e "Deus" são muito frequentemente usados ​​como sinônimos também. Como mencionado anteriormente, isso nos deixa com 14 casos envolvendo a figura conhecida como "o anjo de YHWH" e "o anjo de Deus" no Antigo Testamento.
 
A partir dessa análise do conjunto de 14 casos, vemos que há cinco casos que se enquadram apenas na categoria A: Gênesis 21, Juízes 5, 2 Samuel 24 (com um paralelo em 1 Crônicas 21), 2 Reis 19 (com paralelos em 2 Crônicas 32 e Isaías 37), e Zacarias 1. Da mesma forma, há seis casos que se enquadram apenas na categoria B: Gênesis 16, Êxodo 3, Êxodo 14, Juízes 6, juízes 13 e Zacarias 12. E, finalmente, há 3 ocorrências que contêm declarações que caem nas duas categorias: Gênesis 22, Números 22, e Zacarias 3.
 
Obviamente, por si só, a categoria A está longe de levantar questões sobre uma pluralidade de pessoas na Divindade. Se a soma total dos relatos do Antigo Testamento sobre o anjo de YHWH faz parte da categoria A, chegaríamos a simples conclusão de que há apenas uma "pessoa" dentro da Divindade, e que uma criação dele, conhecido como o anjo da YHWH, atua como seu mensageiro. Por conseguinte, é claro que os casos que se enquadram na categoria B, são aqueles que levantam questões sobre uma pluralidade de "pessoas" dentro da Divindade.
 
Agora, a título de ilustração, é certamente algo para se pensar, de um mensageiro chegar em nome de um rei e, após a mensagem ser lida, seja o público ou o mensageiro declarar: "assim diz o rei." Não haveria nada em tais relatos, que permitiria identificar o mensageiro como o próprio rei. Todas as partes concordariam rapidamente que tais relatos apenas refletem que o mensageiro está falando para o rei, enquanto continua a ser um mero mensageiro. E, se a soma dos relatos do Antigo Testamento sobre o anjo de YHWH eram dessa natureza (especificamente os da categoria B), de fato, não haveria nada que levasse a um questionamento da pluralidade de "pessoas" dentro da Divindade.
 
Mas suponha que neste reino hipotético haja um entendimento de que qualquer um que olhar para o rosto do rei morrerá. E suponha que em uma ocasião, o mensageiro vá até o povo, e ao ver o rosto do mensageiro uma pessoa no meio da multidão grite: "Ai de mim, vimos o rei e agora morreremos!" Ou, se essa mesma pessoa se curvasse diante do mensageiro e chamasse o mensageiro pelo título de "rei"? Em tais relatos, teríamos apenas duas opções. Ou este membro particular da multidão é tolo e equivocado, porque está confundindo o mensageiro com o próprio rei. Ou, se este membro particular da multidão for considerado de confiança e em posição de conhecero rei, teríamos de concluir que o mensageiro era o rei disfarçado e que a multidão tinha de fato visto o rei. A natureza dessa metáfora é limitada porque utiliza o rei humano como uma representação de Deus e, portanto, implica Modalismo, o ponto de vista em que uma pessoa se coloca em diferentes disfarces ou papéis de vez em quando, às vezes aparecendo como um mensageiro e outras vezes em trajes reais de um rei. E, se a soma dos relatos do Antigo Testamento sobre o anjo de YHWH eram da categoria B, então poderíamos, de fato, sermos levados a alcançar alguma forma de modalismo em nossa conclusão. Se todos os relatos relativos ao anjo de YHWH eram de categoria B, então podemos concluir que há apenas uma pessoa na Divindade, mas ele interage com os homens em diferentes formas ou funções e em diferentes momentos. É aí onde os casos da categoria A tornam-se problemáticos.
 
Suponha que levássemos esta ilustração um passo adiante. Suponha que há ocasiões em que o mensageiro é identificado como o rei e há outras ocasiões em que o mesmo mensageiro está de pé na presença de alguém que é identificado como o rei. Ou, para fazer a ilustração ainda mais aplicável, não só eles são identificados como rei, mas ambos são identificados pelo nome próprio do rei. Nessas ocasiões, realmente teríamos duas pessoas sendo identificadas como o rei. Se os relatos descartaram a ideia de um "impostor", e assumindo que os relatos são explícitos em suas identificações e que não cometeram erros em nossa interpretação dos relatos, seríamos levados a qual conclusão? Desde que ambos são pessoas distintas um do outro, lado a lado, não pode mais ser simplesmente o caso de que o mensageiro ser o rei disfarçado, ao mesmo tempo em que aparece como um mensageiro e outro momento em traje real como o rei. Modalismo não é mais uma opção. Embora a ilustração seja limitada porque ele usa um ser humano como um representante substituto, no caso do próprio Deus, podemos concluir que, pelo menos de acordo com os relatos escritos, há pelo menos duas pessoas conhecidas como YHWH Deus, e não que YHWH Deus é simplesmente a mudança de uma forma ou de papel para outro em momentos diferentes.
 
Isso ilustra o dilema criado pela presença da ocorrência de ambas, categoria A e categoria B no Antigo Testamento. É a natureza explícita dessas ocorrências que levanta a questão inevitável de uma pluralidade de "pessoas" dentro da Divindade.
 
Claro que, como observado anteriormente, uma das questões mais críticas neste estudo é se todas as figuras identificadas como YHWH Deus são ou não, na verdade, auto existentes e de posse dos atributos definidores de Deus, como a onisciência e onipotência. Mas, antes de abordar tais questões sobre cada uma das identidades sugeridas de Deus, primeiro temos que estabelecer que haja, de fato, múltiplas e intercomunicantes identidades de Deus no Antigo Testamento. Só então poderemos avançar para perguntar se todas essas identidades são ou não auto existentes e se alguma dessas identidades possui ou não características como onisciência ou onipotência. Para demonstrar que o Antigo Testamento não estabelece identidades intercomunicantes para Deus, voltamos para nossas duas categorias de passagens no Antigo Testamento sobre o anjo de YHWH ou anjo de Deus.
 
 
Autores: Brian K. McPherson and Scott McPherson Copyright © 2001 - 2013. All rights reserved.
Tradução: André Rossi - contato@alphasubs.com